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Foto do escritorPedro Piovan

Firma o Ponto

Mais do que nunca essa frase, tão expressiva e carregada de poder, fez sentido.


Desde que Olodumaré decidiu que Obatalá seria o responsável por criar a Terra e, a partir disso, chamar todos os Orixás para dançar, ecoou um pedido que até hoje permanece em nossas cabeças: preservem e criem a vida.


Desde então, todos os Orixás que descem em terra, celebram a sua Criação em formato de dança, expandindo a vida pela sua presença; da mesma forma as entidades em terra, trazendo palavras que buscam sempre expandir e proteger a vida.


Em um momento que somos encobertos sob a energia da morte - e não falo a morte no sentido da finitude natural das ideias e das coisas, falo da morte precipitada, programada, orquestrada e planejada por uma parcela pequena dos seres humanos - se faz importante ecoar a frase que ouvimos repetidamente de nossos guias, sem ainda compreende-la por completo: "firma o ponto, meu filho”.


Ouvir a frase “firma o ponto” resgata o seguinte sentido: se alinhe sobre os seus princípios, valores, intenções desejos para que a vida seja celebrada a partir disso. É quase que um chacoalhão com a pergunta: “em qual ciranda você quer dançar?"


Questionar seus princípios e valores é compreender, neste momento que estamos vivendo de pandemia, sobre qual energia queremos nos nutrir: uma preservação e expansão da vida, ou uma vocação e impulso de morte.


Em muitos estados e municípios neste momento trabalham com modelos de flexibilização que impulsionam o número de mortes por COVID-19 a crescer deliberadamente (até o momento que pararmos de medir). Em muitas casas e cérebros, as pessoas começam a internalizar e se convencer das primeiras justificativas mal-fundadas para que se flexibilize o isolamento social (me refiro a quem tem privilégios para viver o isolamento): “como não sabemos o que vai acontecer, vamos ter que voltar a vida”, “se pegar pegou, bola para frente”, “mas eu sou jovem, vai dar certo”, “mas vou ter que esperar até ano que vem para sair de casa tranquilamente?" ou até “parece que até tem remédio, então posso sair de casa sem preocupação”.


É claro que existe uma grande parcela de pessoas que nem podem se questionar se devem arriscar a própria vida e daqueles que dividem o mesmo teto, pois ou é isso ou é a escassez de comida. Me refiro aqui a aqueles que tem o privilégio de se questionar se estão fazendo o certo ou não, ao pensar em “flexibilização”.


Isso me preocupa, não apenas por todos os riscos que esse posicionamento entrega a saúde pública, mas também pelo (1) descompromisso e falta de responsabilidade individual e coletiva e (2) os princípios que regem esse posicionamento.


Todos nós, que prezamos para continuar a proteger, zelar e expandir a vida, acompanhado de nossas divindades e Orixás, devemos ouvir atentamente: “meu filho, minha filha, firma o ponto”.


Eu ouço isso no seguinte sentido: se atente aos seus princípios, se proteja, zele por si, zele pela sua comunidade, seja responsável em garantir que a vida ainda tem espaço.


Firmar o ponto é se ater aos seus princípios, compreender onde podemos flexibilizar e onde não podemos flexibilizar - cada um terá uma decisão e cada um sabe o que dá para fazer neste momento, por isso meu intuito não é entregar uma verdade absoluta, mas nutrir a todos que leem este texto com os insumos básicos para que se tome uma decisão razoável neste momento.


Firmar o ponto é compreender com quem e como queremos viver hoje; a partir de quais critérios queremos preservar a vida. Firmar o ponto é compreender as responsabilidades que envolvem ser uma pessoa consciente sobre o quão importante é vivermos para a vida, e não para a morte ou para o descaso com a vida.


Chegamos em terra para celebrar nossa existência, e aqui continuamos, firmando o ponto para a existência.


Trago essa mensagem com muito Amor e com a busca de preservarmos a nossa comunidade e aqueles que podemos alcançar e, principalmente, sem o intuito de entregar uma fórmula mágica para solucionar todos os nossos problemas e também sem a necessidade de impor uma verdade absoluta.


A verdade é para quem cria, honrando as suas responsabilidades envolvidas.


Continuamos aqui, firmando o ponto hoje em nossos critérios de preservação a vida para que, em breve, voltemos ao chão do terreiro com a segurança de que, quando alguém pisar lá, sairá com a abundância da vida e não com o risco da morte.


Axé!

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